A escolha desta história para compor o conjunto do volume 2 de Heroínas e aventureiras tem três motivações: 1. apresentar a personagem Dorothy Dare (1947-1948), que se diferencia de muitas contemporâneas suas por não ser mais uma mulher trabalhando como enfermeira ou fazendo papel de loura burra, mas divertida; 2. apresentar o desenhista Charles Raab (a respeito de quem quase não há informações públicas); 3. e registrar a importância da profissão de "assistente" como porta de entrada para muitos artistas no mercado industrial de quadrinhos.
O "papel" de dublê na indústria cinematográfica inspirou o aparecimento de inúmeros personagens que estrelaram filmes, livros e hq's - vide o volume 01 de Heróis poderosos, nesta coleção, que apresenta o Stuntman, de Joe Simon e Jack Kirby. A surpresa na história de Dorothy Dare, seria, à época de sua publicação, o papel de dublê protagonista ser delegado a uma jovem mulher. Uma rápida pesquisa em acervos de quadrinhos revelará que poucas personagens (até bem recentemente) escaparam de ser limitadas, no desenvolvimento de suas personalidades, por preconceitos de seus próprios autores. Neste contexto, Dorothy Dare se destaca como uma pequena, porém importante, contribuição no sentido de se pensar na mulher como sendo capaz de desempenhar muitas funções além daquelas a que muitos homens gostariam de vê-las confinadas.
A respeito de Charles Raab, como já foi dito, pouco se sabe, embora tenha deixado seu nome gravado na história das hq's como desenhista, entre 1940 e 1943, de outra personagem holywoodiana de relativo sucesso, Patsy (uma menina atriz, que bem podia ser uma versão de Dorothy, antes de se tornar dublê).
Um aspecto da carreira de Raab que nos interessa aqui é o fato de ter se iniciado profissionalmente como assistente de Milton Caniff (1907 - 1988 - criador dos clássicos Terry and the Pirates e Steve Canyon).
A lista de artistas-assistentes que, durante muito tempo, carregaram marcas de estilo do artista de quem foram assistentes inclui, entre tantos, alguns que já apareceram em nossas publicações, como é o caso de, por exemplo, Joe Kubert (1926 - 2012) e Wallace Wood (1927 - 1981), que foram assistentes de Will Eisner (1917-2005).
A produção de artistas-assistentes foi, desde os tempos do renascimento, pautada pela exigência (nem sempre cumprida) de que seu trabalho não fosse distinguível daquele produzido pelo artista a quem assistiam, a tal ponto que, a questão da identificação de autoria no caso da execução de certas obras clássicas tornou-se um problema muitas vezes insolúvel. Trazendo a mesma questão para o universo das histórias em quadrinhos, bastaria comparar os desenhos de Charles Raab e de Lee Elias (outro assistente de Caniff) para entendermos a dimensão do problema da autoria e do estilo pessoal.
Veremos outros trabalhos de todos os artistas citados nesta coluna em breve nesta coleção. E também de Charles Raab e Dorothy Dare! Aguarde!
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