Participar como soldado em uma guerra já foi - e talvez ainda seja, em algumas sociedades - considerado algo equivalente a viver uma aventura. Ao longo da violenta história humana, milhões de indivíduos foram seduzidos por essa ideia - entre tantas fantasias empregadas para recrutar gente inexperiente. Como todos os outros meios de comunicação de massa, as histórias em quadrinhos foram - e continuam sendo - usadas como espaço para difundir essas ideias. Em certos contextos, afastar-se das convenções temáticas e formais das narrativas bélicas ainda hoje é iniciativa vedada aos roteiristas. Por essa razão, entre outras, os enredos do gênero de guerra costumam centrar-se em pequenas questões humanas do cenário das batalhas, ao invés de abordarem as grandes questões que levam os senhores da guerra a produzirem conflitos incessantemente.
É natural que, em culturas nas quais valores como honra e lealdade equivalham a padrões de comportamento socialmente recompensados, muitos leitores se sintam cômodos percorrendo terrenos previsíveis, em busca de algumas horas de puro entretenimento.
Foi com a intenção de propor exemplos e contrapontos a essa incômoda comodidade que escolhemos Bob Powell (1916 - 1967) e Russ Heath (1926 - 2018) para inaugurarem esta seção da nossa qquadrinhoteca com histórias ambientadas na quase esquecida - e violentíssima - Guerra da Coréia (1950 - 1953), que serviu de ensaio para a Guerra do Vietnã (1955 - 1975).